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Levada

As Levadas da Festa do Amparo representam um dos desdobramentos mais significativos da reconfiguração das práticas culturais populares em Valença a partir da segunda metade do século XX. Surgidas sob influência direta do samba junino – manifestação cultural típica das periferias de Salvador, especialmente durante o período dos festejos de São João –, as levadas introduziram novas formas de celebração e ocupação do espaço urbano durante a festa em honra à padroeira da cidade.

O samba junino caracteriza-se por ser uma prática musical de rua, marcada pela percussão intensa, dança coletiva e organização comunitária, elementos que o aproximam de tradições oriundas das religiões de matriz africana. Uma de suas variações mais expressivas, o chamado samba duro, encontra raízes em ritmos como o samba de caboclo, tocado em terreiros de Candomblé de Caboclo, revelando, assim, o entrelaçamento entre religiosidade, cultura afrodescendente e festa popular. Quando transposto para Valença, esse repertório foi adaptado aos contextos locais, gerando novas expressões que ganharam força dentro da programação festiva.

Segundo relatos de membros envolvidos na organização dos blocos, o termo “levada” advém da ideia de “levar o samba às ruas” – a levada do ritmo, do corpo e da festa. A primeira manifestação com esse formato ocorreu em 1997, com a saída do bloco Samuray In Galera, organizado pelo grupo Alegria de Versar, com remanescentes do Pagode do Alonso. Inicialmente ligada à Lavagem do Amparo, a iniciativa passou a ser conhecida como Levada do Amparo e, posteriormente, consolidou-se como uma das atrações do dia 8 de novembro, feriado municipal em honra à padroeira. Essa levada, contudo, foi descontinuada na segunda metade da década de 2010, marcando o encerramento de um ciclo de sua atuação dentro da festa.

Em 2005, surge uma nova vertente com a fundação do bloco Movimento Popular da Vila Operária, responsável pela criação da Levada da Vila. A iniciativa partiu de fomentadores culturais do bairro da Vila Operária, que buscaram integrar a força comunitária local à Festa do Amparo por meio de um bloco que se destacasse no dia da Lavagem. Desde então, a Levada da Vila passou a compor de forma expressiva o calendário festivo, evidenciando a vitalidade das manifestações populares da cidade. Em 2018, após reconfigurações internas, o bloco Movimento do Preto assumiu a organização da Levada da Vila durante a Lavagem, garantindo a continuidade dessa tradição até os dias atuais.

Com o passar dos anos, as levadas passaram a contar com trios elétricos e outras estruturas que ampliaram sua capacidade de mobilização e sua visibilidade dentro da festa. Além dessas duas principais, outras levadas surgiram pontualmente, como a Levada Elétrica da Amchuva, realizada em 2013, revelando o dinamismo e a multiplicidade das manifestações culturais associadas à festa.

As levadas, mais do que espaços de lazer e celebração, assumem relevante papel social e econômico. Elas promovem a geração de renda para trabalhadores autônomos, ambulantes e pequenos comerciantes, especialmente aqueles oriundos das camadas populares, contribuindo para a movimentação econômica do município durante o período festivo. Ao mesmo tempo, constituem importante expressão de identidade coletiva e pertencimento, reforçando a dimensão popular e inclusiva da Festa de Nossa Senhora do Amparo.

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