
Lavagem do Amparo
A Lavagem do Amparo constitui uma das expressões mais marcantes da Festa de Nossa Senhora do Amparo em Valença, revelando a fusão entre práticas católicas e tradições de matriz africana. Seu formato atual remonta à década de 1970, quando foi oficialmente incorporada à programação da festa. Contudo, registros da tradição oral indicam que a prática de lavar a igreja antecede esse período, sendo atribuída aos operários da Companhia Valença Industrial (CVI), que, em gesto de gratidão, realizariam a limpeza do templo em honra à padroeira, dias antes do início dos novenários.
A consagração de Nossa Senhora do Amparo como protetora dos operários, ainda no século XIX, pode ter contribuído para a consolidação desse rito como uma forma simbólica de reconhecimento à intercessão da santa. Com o passar do tempo, a Lavagem do Amparo transformou-se em um espaço de confluência religiosa, permitindo que adeptos das religiões de matriz africana também prestassem culto a Ọṣun, orixá das águas doces, da fertilidade, da abundância e da maternidade. A aproximação entre Ọṣun e Nossa Senhora do Amparo sustenta-se, sobretudo, pela simbologia compartilhada da maternidade e pelos elementos dourados que ambas ostentam em suas representações sacras.
A partir dessa associação, a Lavagem do Amparo consolidou-se como manifestação de caráter afro-católico, evidenciando a pluralidade de devoções presentes na festividade. Ao longo dos anos, o rito também se tornou palco para a inserção de novas expressões culturais, como a participação do Zambiapunga, da Filarmônica 24 de Outubro e dos Sambas Juninos – estes últimos influenciados pelas periferias de Salvador e integrados à festa entre as décadas de 1980 e 1990. Tais práticas influenciaram diretamente o surgimento das Levadas do Amparo, criadas entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000, consolidando-se como desdobramentos festivos da lavagem.
Após a pandemia de COVID-19, novas manifestações passaram a compor a Lavagem do Amparo, como a saída da Charanga da Banda Staccato, reafirmando seu papel como espaço dinâmico de celebração popular. Realizada tradicionalmente no último domingo de outubro, a Lavagem do Amparo marca a abertura oficial da festa. Em anos eleitorais com segundo turno, sua realização é antecipada para o penúltimo domingo do mês, em virtude da legislação que veda a realização de festas públicas em dias de votação.




















